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Prevenção contra o HPV deve ser a regra do Carnaval (e do ano todo)

17 fev 2020 • admin

Para aproveitar o Carnaval com segurança, uma das principais recomendações é usar preservativo, que previne doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Embora não tão comentada, a mais comum dessas infecções é desencadeada pelo Papilomavírus humano (HPV), que invade pele e mucosas e pode provocar câncer. Mas vale lembrar que a camisinha é só uma das formas de se prevenir essa enfermidade.

Na realidade, uma das maneiras mais eficazes e seguras de prevenção primária começa com a vacinação contra o HPV em meninas e meninos, antes de se tornarem sexualmente ativos. Dos mais de 150 tipos diferentes de HPV, 40 podem contaminar a região genital e provocar tumores malignos, e os principais deles são combatidos com duas doses de uma vacina disponível gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Dois preservativos fechados em embalagem vermelha.

Uma pesquisa feita em 2018 pelo Ministério da Saúde e um hospital de Porto Alegre apontou que mais da metade da população brasileira entre 16 e 25 anos carrega o HPV no corpo. Entre esses jovens, 38,4% apresentam tipos do vírus de alto risco para o desenvolvimento de câncer (chamados de HPVs oncogênicos). Esse vírus provoca principalmente tumores do colo do útero, mas também de vagina, vulva, ânus, pênis e orofaringe (na região da boca e da garganta).

A incidência do câncer de colo do útero é considerada alarmante pelos profissionais da saúde. Em mais de 90% das vezes, ele está relacionado com a infecção por HPV, que é evitável. A doença registra mais de 16 mil novos casos por ano no Brasil — em média, quatro a cada dez pacientes morrem em decorrência do quadro, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA).

Pensando nisso, algumas sociedades médicas e grupos de apoio a pacientes com câncer fundaram o Movimento Brasil Sem Câncer de Colo do Útero. A iniciativa é do EVA – Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos, alinhada com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que defendem uma abordagem integral para prevenção e controle da doença.

O principal objetivo é eliminar o câncer de colo uterino como problema de saúde pública no Brasil. O grupo quer dialogar especialmente com mulheres de 25 a 64 anos, que são candidatas ao rastreamento por meio de exames, e com os pais de crianças e adolescentes dentro da faixa etária indicada à vacinação contra o HPV.

Entre os assuntos primordiais do grupo está a volta das campanhas de vacinação dentro das escolas. Ora, em 2014, quando a vacina do HPV começou a ser ofertada pelo SUS, a adesão foi de cerca de 90% do público-alvo. Hoje, com a vacinação sendo realizada apenas nos postos de saúde, ela caiu para menos de 60% entre as meninas e abaixo dos 25% nos meninos.

Como a maioria dos pais trabalha fora e ir aos postos de saúde (que só costumam funcionar em horário comercial) exige uma logística mais complexa, ao aplicar a vacina no ambiente escolar, a adesão deve subir novamente. Isso permitirá que a recomendação da OMS de imunizar ao menos 80% das meninas com as duas doses seja cumprida. A ideia é que, protegendo nossos jovens agora, a prevalência dessa infecção e, consequentemente, dos tumores causados por ela, diminua nas próximas décadas.

Outra luta envolve a realização dos exames de rastreamento, como o Papanicolau, que deve ser feito periodicamente pelas mulheres. Como o câncer de colo do útero apresenta poucos sintomas em seus estágios iniciais, é fundamental que as mulheres não só façam os exames, como retornem ao médico para pegar os resultados.

Mais de 6 mil mortes por ano poderiam ser evitadas se estivéssemos fazendo a prevenção adequada. Quando diagnosticado precocemente, o câncer de colo do útero tem alta chance de cura.

A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), que faz parte do Movimento Brasil Sem Câncer de Colo do Útero, está empenhada em disseminar informações de qualidade sobre a doença, a fim de dar ainda mais força para a iniciativa. É fundamental que a prevenção e o controle do câncer de colo uterino se tornem prioridade em nosso país, com a implementação de ações para aumentar a cobertura vacinal contra HPV em meninos e meninas, além da criação de estratégias para otimizar rastreamento e tratamento de lesões precursoras do câncer.

 

Fonte: Portal Revista Saúde – Abril | *Por Dra. Karime Kalil, oncologista do Comitê de Tumores Ginecológicos SBOC